Nomes que se esquecem



Há dois anos atrás tive a oportunidade de passar férias na Turquia. Desembarquei no aeroporto de Istambul por volta das 23h30 com uma mochila às costas e o Lonely Planet Turkey debaixo do braço. A cidade era-me estranha e, como não gosto de comprar viagens que os outros organizaram para mim nem de reservar quartos em hotéis com antecedência, optei por passar essa noite no aeroporto até que amanhecesse. Só aí é que apanharia um autocarro para a cidade, numa viagem que se estenderia por duas semanas. Estava à espera de um país muçulmano e descobri um país com a cabeça na Europa e os pés na Ásia. Uma Europa que não parecia, mas que o queria ser. À data, a crise económica ia desvalorizando diariamente a moeda do país, ou seja, para um european union citizen os preços ficavam cada vez mais baixos. Os turcos é que iam ficando por cada vez mais pobres. Às vezes lembro-me de Istambul, metrópole caótica, poluída e monumental, de Kas, a vila dos barcos, da aldeia de pedra e terra virada para o Mediterrâneo onde passei uma noite e à qual só se tem acesso através de barco, de Konya, capital do país conservador, de Bursa e dos hotéis dos banhos turcos e das massagens, das cidades subterrâneas na Capadócia, albergue para milhares de cristãos perseguidos, das casas escavadas na terra, das casas nas árvores com vista para o mar e, claro, da bellydance e do Tarkan em discotecas manhosas. Entre cidades fui conhecendo pessoas, umas mais interessantes do que outras, que me explicaram que país era aquele. Desde a criança engraxadora de sapatos que era espancada na esquadra por ser curda, ao vendedor de tapetes que me ofereceu estadia na casa dele durante três dias. Foram estas e outras as pessoas a quem prometi enviar as fotos que retratavam os nossos encontros casuais de viagem. Prometi mas não cumpri. Agora que soube que a al-Qaeda atacou em Istambul, pergunto-me como é que elas estarão e arrependo-me de não ter retribuído minimamente aquela generosidade genuína. Já nem sei os nomes deles. Esqueci-me. Cruzámo-nos com pessoas pequenas que depois não largamos e com pessoas grandes que pomos a um canto. Com 26 pessoas mortas num atentado em Istambul, apercebo-me que nunca se deve prometer o que, por preguiça, não se vai cumprir.

Rui

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