Missiva ao Vitó

Caro amigo,

Tendo em conta o reduzido tempo livre que disponho por ora, adianto aqui algumas realidades e outras tantas considerações que sei que iniciarão uma discussão que estender-se-à até à nossa outra casa:

- Sabias que tu, enquanto estudante do ensino superior público (adiante designado por e.s.p.), custas cerca de €5.520/ ano ao "Estado"?!
Quanto pagas de propina anual?

- Sabias que não existe qualquer imposição constitucional/legal quanto à frequência no e.s.p?!
A tua incursão no meio não foi por acto voluntário?

- Sabias que a maior parte dos alunos portugueses efectivamente carenciados encontram-se no ensino superior privado?!
Sabes quanto é que pagam mensalmente só de propinas?

- (...)

Acho que, e em nome do bom senso e do bom nome da nossa geração,
devemos pensar três vezes antes de dizermos certas coisas sob pena de incorrermos em verborreias reaccionárias e desprovidas da madureza que certos assuntos reclamam.
Eu encaro uma licenciatura como a principal ferramenta para galgar autonomamente na vida, consequentemente não considero que o "Estado" tenha a imperiosa obrigação de suportar o meu custo na aquisição daquilo que EU, e só EU, entendi que seria o melhor meio para alcançar o êxito futuro por/para mim pretendido.
Sou aluna do ensino superior,mas não do e.s.p., sendo a minha propina mensal superior à tua até então propina anual; financio, como tantos outros cidadãos e através do pagamento coercivo de impostos, a tua permanência no e.s.p. durante o tempo que entenderes razoável, sem me insurgir contra ti e sem te dizer que poderias pagar mais propinas para que os teus colegas realmente carenciados pudessem frequentar o e.s.p. ou até demorar o mesmo tempo que tu para acabar o curso (quem realmente abdica de bens considerados essenciais apresenta-se, pelo menos, célere na conclusão da sua formação académica).
Devemos querer sempre mais e melhor. Devemos sempre reivindicar, avocar os nossos direitos em nome da legítima luta por uma sociedade necessariamente mais justa e por um futuro desejávelmente melhor- eis os eternos clichés filhos da Democracia. Mas, do mesmo modo, não os podemos deixar orfãos, temos de ser seus "pais", cumprindo os nossos deveres e reclamando a excelência depois de a termos adoptado como estatuto da nossa conduta.

Babs

0 comentários: