Carta ao Sr. Jose Manuel Fernandes

Sr José Manuel Fernandes,
Tudo o que disse parece ser de facto sensato e ponderado mas parece-me que nao e uma opiniao parcial.Fundamentada parece ser, mas fundamentada na opiniao nao na experiência de quem anda numa universidade publica.
A proposito aqui ficam alguns dados referentes ao financiamento do ensino secundario relativos ao ano 2000, em "www.eurydice.org".

"...Em praticamente metade dos países da UE e da EFTA/EEE, os estudantes nao contribuem para acobertura dos custos do ensino superior, pelo que este pode, consequentemente, ser considerado
como gratuito. Estao neste caso a Dinamarca, a Grecia, o Luxemburgo, a austria, a Finlandia e a
Suecia, bem como a Noruega. Ha tambem o caso da Alemanha, com excepcao de dois Lander (Bade-
Wurtemberg e Berlim), nos quais foram introduzidas regulamentacoes que visam o aumento das
taxas de matricula.Em muitos destes paises (Alemanha, Austria, Finlandia, Suecia e Noruega), os estudantes sao
levados a pagar quotizacoes, quer as associacoes de estudantes, quer a organismos que
proporcionam apoio aos estudantes, a maior parte das vezes sob a forma de serviços subsidiados
(alojamento, alimentacao, serviços culturais, etc.).Nos outros paises, os estudantes pagam taxas de matricula ou propinas aos estabelecimentos de ensino superior.E o caso da Belgica, da Espanha, da Franca, da Irlanda, da Italia, dos Paíises Baixos,de Portugal, do Reino Unido, bem como da Islandia. Os montantes podem variar consoante os
paises, e, dentro de um mesmo pai­s, conforme o sector de ensino ou o programa de estudos..."

Gastar facilmente em cerveja, em telemoveis, ou onde quer que seja parece-me uma generalizacao errada visto a grande maioria dos estudantes com quem converso, e sao muitos, veem cada vez mais o seu orcamento apertado e nao e deste ano, ja ha algum tempo que vem sendo assim. Sera que podemos ser criticados por tentar esquecer, por vezes, este pai­s que, cada vez mais, se aproxima de um pais sul americano onde as desigualdades sociais se acentuam de dia para dia, sera que temos de acreditar que este aumento brusco das propinas se destina ao melhoramento da qualidade de ensino, das instalacoes universitarias, do reforco da accao social, da aposta na investigacao?

Ou sera que e legi­timo pensarmos que este aumento apenas se verifica para o actual governo conseguir fazer face a mais umas decimas do defice a custa dos estudantes e respectivas fami­lias. Sera legi­timo penar que este aumento brusco das propinas se destina a pagar os salarios dos professores, acessores, adjuntos, assistentes e secretarias (note-se que segundo o site "www.eurydice.org" "...O ultimo relatorio publicado pela rede estatistica europeia Eurydice confirma que os professores portugueses sao os mais bem pagos da Europa. O estudo analisa dados de 30 paises relativos ao ano passado e tem em conta a correspondencia, em cada um deles, entre o salario e o Produto
Interno Bruto (PIB) "per capita"..."
Os professores portugueses, quer ao nivel primario, secundario inferior e secundario superior, sao os que mais auferem em relacao ao resto dos pai­ses da comunidade europeia, informacao disponibilizada graficamente aqui).

Nao sera legi­timo pensar que este aumento brusco das propinas se destinam a, de uma maneira escamoteada, reduzir o numero de estudantes no ensino superior atraves dum aumento injusto que visa os mais desfavorecidos a desencorajar os filhos de prosseguirem uma carreira academica e/ou os filhos conscientes das dificuldades dos pais optarem por nao sobrecarregar as dividas ja muitas dos pais. (falo agora de uma situacao ocorrida na covilha a qual um amigo meu assistiu na fila de inscricoes, quando ja se sabia que este aumento tinha pernas para andar, uma filha e o seu pai ja com 2 filhos no superior, quando perguntou no secretariado qual seria o valor das propinas e a funcionaria lhe respondeu, a filha nao se inscreveu).

Sera que a mesma medida de uma outra forma nao seria tao ou mais eficaz, por exemplo acabar com os cursos nos quais se inscrevem menos de 5 alunos, e que nos quais continuam a leccionar professores como se de uma turma se tratasse, segundo a capital de 23/09/2003 300 cursos receberam 10 alunos e 10 cursos nao receberam nenhum (informacao disponibilizada aqui) ou reduzir o numero de vagas para cursos se sabe que estao a abarrotar e com as sai­das de emprego completamente tapadas. Nao estaremos a formar futuros desempregados de luxo os quais teremos de suportar com verbas muito mais superiores.

Porque nao defender uma propina minima ajustada, onde tanto os que tem mais poder como os que tem menos poder pudessem conviver e estudar sem que para isso fosse preciso este aperto. Sr Jose Manuel Fernandes, ha muita gente a viver estudante a viver por mes com 100/150 Euros, estudantes que sacrificam quase tudo para poder tirar o seu grau academico, agora retire a 100/150 50/60 Euros, acha que vao ter uma vida digna?

Defende como eu a progressividade dos aumentos, e talvez pudesse pensar que o grito "nao pagamos" se refere a escandalosa diferenca agora imposta e nao as propinas em geral. Acha que os estudantes, conscientes de que tem um ensino de qualidade, instalacoes etc, etc se manifestariam por este ou por outro aumento, uma manifestacao que juntou pesoas de todos os extractos sociais e cores poli­ticas.
Deveremos nos achar que este aumento se destina a melhorar a vida dos estudantes, quando um estudante na sociedade portuguesa e visto como mais uma pessoa activa sem qualquer tipo de benefÃicio nos passes sociais, transportes, vida em geral. Deveremos nos estar a favor desta monstruosidade que visa apenas recolher mais uns milhoes no curto prazo que rapidamente se escoarao para que no fim do ano a meta principal e unica do nosso governo seja baixar mais uma(s) decima(s) no defice, para ai sim mostrar que o nosso governo e um aluno aplicado, esquecendo no entanto os seus alunos que continuam a viver a merce do tira do bolso de quem nao tem ou pouco tem para que no final sejamos vistos la fora com nota positiva.
A nossa classificacao esta dada, ca dentro ela e negativa e muito negativa.
Vito

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