Feliz vida e morte meus queridos

Não ligo muito a esta data festivaque atravessamos, ainda existe, nem sei se infelizmente se indeferentemente, o dia de Reis que prolonga esta quadra até o dia 6 de Janeiro o que perfaz uma quantidade demasiadamente extensa para o que é. Não que seja uma pessoa triste, mas antes uma pessoa que observa tudo mais ou menos de uma forma desprendida e sempre com muito sentido crítico. A verdade é que acho demasiado longa esta festividade, desde que começa, hoje em dia em meados de Novembro já "cheira" a "sente" a Natal. Como referi não sou uma pessoa incólume ao sentimento natalício, gosto da parte familiar da quadra, de reunir família como antigamente e este em particular com mais uma pessoa que antigamente, que veio substituir uma outra e que trouxe muita alegria a casa. Como poderão (l)ver sinto! O que me chateia é que sinto no momento certo, não necessito de andar a sentir continuamente só porque sim, sinto quando sinto e não porque tenho de. E sinto esse espírito natalício sempre que ele se proporciona, independentemente de altura do ano em que ocorre.

Posso concordar com o facto de não gostar muito de pensar muito profundamente sobre mim, pelo menos em dias em que essa profundidade de pensamentos que não existem. Fico ali em círculos, cirandando o que parece ser um problema mas que na verdade não o é. Acho que é mais ou menos isso que causa desarranjos do foro psicológico. A incapacidade de conseguir verificar que o problema sobre o qual se circula é perfeitamente manejável. Felizmente tenho essa capacidade de discernimento absolutamente apurada, significando que por vezes dou por mim a tentar procurar preocupações e problemas para os quais não tenho solução, mas claramentenão têm porque pura e simplesmente não existem. Talvez seja a mania da mente humana, reformulo. Dos humanos de terem de andar preocupados com algo, talvez seja um reflexo de um estilo de vida onde o vazio, vulgo bem estar, psicológico não é natural, é contra-natura. Seja como for eu não sou assim. E cá para mim, felizmente.

Facto é que, depois de tal prolongada quadra festiva, onde a felicidade, bondade, carinho, amizade fraterna, solidariedade e alegria são apregoadas em alta voz como se estas características tivessem espaço próprio para aparecer, até eu começo a duvidar da minha forma de estar em relação a estas, diga-se em abono da verdade, qualidades humanas. E quando tal acontece, confesso que por norma é no fim da quadra natalícia, vulgo pós fim de ano, que entro por mim a dentro e faço retrospectivas estúpidas que me levam a conslusões igualmente estúpidas e que inteligentemente descarto a seu tempo.

No entanto e olhando para estas qualidades humanas que enumerei em cima, consigo rever-me em quase todas, outras não completamente, e consigo não rever muitas pessoas com essas qualidades enumeradas mas que as desempenham com mestria no tempo que lhes é destinado. Eu sem falsas modéstias e com feitio conhecido pelos mais próximos afirmo que me revejo particularmente em duas dessas qualidades carinho e amizade vincadíssima. Claro está, já o disse, guardo-as sempre intactas e em perfeito estado para quem as merece, para outras em fase de conhecimento salpico-me delas, como me perfumando, para ver quem é comptível com tal odor, misturo sempre no entanto outras essências menos bonitas, já que vejo o conhecimento como um processo onde gosto de saber tudo.

Sou curioso também, mas principalmente carinhoso e amigo. Ora este é um pensamento que normalmente, fora deste final desta, em particular, quadra festiva me ocorre bastante regularmente e não potencia muitos mais pensamentos sobre o como sou. Acontece que nesta fase de, diria quase depressão colectiva pós abundância das boas qualidades (Sim! Redundante porque sim!) e início da vida normal apenas com umas sobras de tal abundância, este pensamento sobre o meu ser levou-me a outros pensamentos sobre como é outra pessoa muito parecida comigo, mais precisamente o meu irmão cuja identidade é a minha tendo em conta as palavras escritas até agora e para meu espanto ainda me levou para outro nível, nomeadamente as escaladas de necessidades das pessoas.

Como é possível tal pensamento inicial ter despoletado tal discorrimento de pensamentos, para mim encadeados, ao ponto de ter reflectido sobre a escalada de necessidades das pessoas e o sobre como as pessoas como nós são sugadas destes sentimentos e mesmo assim manter sempre intactos os recipientes deles. É preciso um grande depósito para tal acontecer, e aqui chego mais ou menos onde queria chegar, que é a incapacidade nos nossos anos de vida termos produzido tal quantidade dessas belas qualidades. Sendo assim, e tendo a certeza do que estou a dizer, os nossos depósitos foram sendo alimentados destas qualidades pela nossa família, e quando digo família digo literalmente, a minha Mãe e o meu Paizinho que foram percussores, apesar de, de dentro, não parecer afinal nos encheram de carinho e amizade e melhor ainda nos deram a receita sobre como continuar a produzir essas substâncias até as passarmos aos nossos, nossos nossos ou nossos outros.

Por isso, desculpa Mãe não te ter dado uma prenda, mas a minha melhor prenda será sempre o amor, carinho e amizade incondicionais. Para ti Pai tudo isso e mais. A certeza que me estou a portar e a pensar como tu gostarias que eu o fizesse.

Obrigada por me darem esta prenda vitalícia.