E vocês têm novidades?

Gosto das pessoas que automaticamente disparam as coisas que lhes acontecem no seu quotidiano, problemas que passam diariamente, pensamentos que tiveram durante o dia e outras coisas mais que há para falar numa conversa. Não precisam do botão de arranque para começarem a debitar informação e/ou desinformação, sabem quem é a pessoa em frente delas e começam pura e simplesmente a falar sobre as suas coisas. Já as pessoas contrárias não me puxam muito. São as que esperam que lhes façam a(s) pergunta(s) clássica(s) "Então e novidades?", "Então como correu o dia?", "Sempre fizeste aquilo?" ou então fazem perguntas retóricas para as quais não esperam resposta e que têm com principal e quase único objectivo preparar o terreno para que comecem a desbobinar a informação que querem, e outras mais que iniciam então, o que deveria ser uma conversa mas que normalmente, se torna um monólogo ou algo assim do género onde não estão as duas, ou mais, pessoas envolvidas.

Talvez por apenas agora ter começado a simplesmente falar dos meus problemas e coisas que me acontecem seja uma coisa hibrída entre a primeira "classe" e uma outra meio diferente que é a de não ter a capacidade suficiente para me lembrar de situações do dia a dia apenas por lembrar, apenas porque sim. Não me passam ao lado nem as negligencio, guardo-as mas em conversas não saem espontanemanete, precisam de se alavancar em conversas que cruzem pontos comuns com elas para que eu me recorde perfeitamente dessas situações. Whatever.

Isto a propósito de um tique? que as pessoas que esperam pela pergunta e/ou fazem a pergunta retórica foram adquirindo ao longo da sua existência, que é a sua quase total incapacidade de ouvir o que as outras pessoas têm para dizer. Quer seja por enquanto estão a ouvir a outra pessoa estarem totalmente focadas no que vão dizer a seguir quando surgir uma das perguntas mencionadas em cima, ou então porque quando fazem a pergunta retórica e recebem a resposta, desprezam pura e simplesmente a respostas com um clássico "Ah sim!?", "Muito bem!", etc etc etc e partem para a sua dissertação sobre a sua vida, aconteciemntos, pensamentos etc etc etc.

Não existirá muita diferença entre as pessoas que o fazem gratuitamente por serem assim, e uma pessoa que precise destes meios para então falar de si e da sua vida. Mas a sensação que fica a quem ouve é totalmente diferente. Quem ouve, ouve por gosto as primeiras pois elas são assim, o ouvinte até se inclui nalgumas situações que está a ouvir e entra na conversa de forma natural. Já no segundo caso, e quando me acontece a mim, a pessoa fica chateada porque percebe perfeitamente que os seus problemas não dizem rigorosamente nada à outra e que esta apenas suportou, normalmente, o pouco tempo em que se esteve a falar sobre os seus problemas, assuntos, etc etc etc para poder então depois, e sem sequer ter ouvido ou retido quase nada, disparar.

Dantes sentia mais isso, pois sempre fui mais ou menos um ouvinte. Não porque gostasse muito de ouvir os problemas dos outros, que pelo menos 90% são perfeitamente negligenciáveis e não deveriam ter sequer qualquer peso no estado de espiríto das pessoas, mas sim porque não era um "falante". Não gostava de falar de mim e das coisas que me diziam respeito. Interiorizava tudo, às vezes até ao limite de informação e quase rebentava. Agora é um pouco diferente, mas devido ao tempo passado sendo da forma descrita em cima ainda sofro um pouco as consequências de o ter sido assim. Isto aliado ao facto de estar fora de casa à quase 10 anos, e o quão este facto turva a percepção dos nossos, família principalmente, dos nossos problemas.

O facto de quando revisitamos os nossos, não levarmos grandes doses de problemas, questões e outros pensamentos mais é porque normalmente visitamos porque queremos ver e estar de novo e sentir carinho, afecto e outras coisas mais deles. Queremos por para trás a semana, semanas, mês ou meses e as coisas que neles se passaram e estar descontraídamente com quem realmente se gosta e tentar precisamente não pensar nisso. O que não significa que não os tenhamos!

Hoje estou bastante diferente, se calhar para azar de algumas pessoas que me ouvem de vez em quando e que devo martirizar com conversas, que no meu caso têm quase sempre uma densidade que por vezes nem eu a consigo perceber. Não percebo ás vezes onde vou buscar, de situações simplissíssimas, extrapolações sobre os porquês delas e os porquês do ser humano ser assim, e porque é que elas acontecem olhando para a evolução humana e os factores socio-económicos que podem levar a que elas aconteçam e uma outra série de coisas que provavelente não tem nada a ver. Mas não é daí que se parte para conversas realmente preenchedoras? Eu acho que sim e gosto. E dantes sentia que estava a ser chato e que as pessoas não estavam a perceber e que nao queriam saber e que queriam fazer a pergunta retórica para começarem a falar. Pois bem, hoje só a faço depois de tentar puxar a pessoa para o lado de cá, de os fazer pensar em outras coisas que não as mundanas.

Como diria uma colega minha, "Tu não sabes falar de coisas fúteis. E isso faz muito bem!", e com alguma dose de razão, ainda tenho alguma dificuldade de o fazer sim, mas à medida que vou crescendo e moldando à sociedade onde me encontro, totalmente, inserido vou aprendendo estas coisas que vão tornando o meu ser mais agradável aos outros.

E vocês têm novidades? :)

Bom dia

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu não tenho novidades, mas podes ter a certeza que quando tiver um novo emprego serás o primeiro a saber!

Ah! É verdade. tenho uma coisa para te contar. Quando chegares a casa digo-te. Beijinhoooss!!

Duro molusco disse...

Epá, já sabes que sou curiosissimo e vou ser incapaz de não te telefonar a seguir aos próximos 13 caractéres...

Anónimo disse...

Não haver nada de novo é sempre uma novidade! Distingamos o pessoal em dois tipos: "quem" e "o quê". "Quem és tu". "o quê" são algo que nem sabemos o que é, obviamente. Os "o quê" deixei de os/as aturar. Arranjei técnicas, e resultam.
Tás diferente tás. e tás potente assim.
Pá, se as conversas fossem como as nossas, isto era muito mais interessante!
Convencido, não. Realista.