Passou a semana passada, a semana de 29 de Março a 7 de Abril, a semana do reinício de mais uma fase da minha estadia por terras Lisboetas, que se iniciou hà já algum tempo, ainda nem sequer andava na faculdade e vim passear, como costuma dizer a minha mãe, a Lisboa. Diz ainda que vim conhecer Lisboa à noite nesse ano, já longínquo, mal ela sabe, ou aliás sabe perfeitamente mas como qualquer mãe tem o seu lado de negação no que toca às atitudes e comportamentos e aventuras dos filhos, que essa descoberta foi contínua desde sempre, até hoje continuo nessa demanda que é descobrir e re-descobrir Lisboa. Gosto de andar por aí, perder-me e achar-me a seguir e voltar a perder-me, sorver Lisboa e os Lisboetas, Lisboa antiga suja, feia e má e eclética e em ruínas, onde não há carros nem o barulho constante do circular dos pneus, Lisboa portanto. É nela que gosto de morar, foi nela onde morei sempre desde que aqui estou, tirando os últimos 6 meses onde morei numa Lisboa diferente da que gosto. Gostava do motivo pelo qual ali morava e gostava do sítio onde morava, um T1 lindo de morrer, pequenino mas absolutamente fantástico, gostava da mobilidade que me dava para chegar a qualquer sítio em pouco tempo, gostava de uma série de coisas mas que eram coisas acessórias, que não determinavam a minha estadia por ali, até porque como referi Lisboa não é ali.
O motivo por ter ficado ali era outro, era um culminar de uma aventura iniciada há quase 8 anos atrás, o construir a base de lançamento para algo maior. O motivo bastava para ali ficar, até poderia ser ainda em menos Lisboa, esse motivo era bonito e merecedor, claro que nunca trocaria Lisboa pela motivadora do motivo, mas quando se pode aliar o útil ao agradável é sempre melhor não é? Seja como seja, o motivo acabou, por alguma razão apareceu a desmotivação, em mim presente numa camada (in)consciente há já algum tempo, nela não sei se também mas presumo que sim, pelo menos quero crer que sim, porque sim, porque senão não! Aconteceu o que eventualemente alguns de vocês saberão. Aconteceu e foi aceite, conversado e ninguém se magoou (muito). Foi um processo que dentro da tristeza clássica foi bem conduzido e bonito, fruto das pessoas envolvidas e do que tihamos em comum, e ainda partilhamos e partilharemos para sempre, estes aspectos pessoais não serão rompidos assim do pé para a mão. O que teve de ser "despartilhado" foi o sítio físico onde moravamos os dois. E que dureza foi ter de deixar aquele sítio, descrito em cima, não pela pessoa mais pelo sítio.
Pelo sítio porque sim, porque era pequeno para os dois, porque a intersecção de espaço era demasiadamente grande para que os índividuos presentes em cada um se pudessem redescobrir como individualidades, como unos e pessoas sozinhas. Readquirir a sua forma pessoal sem "ruído", sem forças de atrito, e quando falo nestas dificuldade de afirmação dos índividuos não as menciono inteiramente direccionadas para coisas do coração, pelo menos por mim falo, direcciono-as para o plano físico de espaço, o redescobrir de coisas que reprimimos porque vivemos em comunidade e o respeito por certos limites existentes tem de existir. Sozinho não, posso fazer tudo o que gosto como gosto quando quero como quero, e se estas premissas interferem com o plano de bem estar físico da outra pessoa então temos um choque. Ora detestando choques de todo o tipo, preferi sair. Abruptamente é certo, mas teria de ser assim pois a percepção da outra parte envolvida neste processo não se iria abrir tão cedo. A casa era dela, durante o dia e durante a noite, ela morava lá. Eu não! Eu ia lá à noite para dormir e tentar ter um pouco da minha vida pessoal, que é precisamente no horário pós laboral. Vida essa que durante a semana é naturalmente e maioritariamente feita em casa a fazer o que bem apetecer, pelo menos quando se é solteiro e bom rapaz. Acontece que isso não vinha a acontecer nos últimos tempos, porque o meu tipo de vida em casa chocava com o dela e, sendo um rapaz com alguma dose de respeito pelos outros, em particular por este outro, sentia a minha vivênvia que tanto ansiava por redescobrir turvada por condicionantes que não me mereciam rebate ou aborrecimento. Verdade seja dita, que desde o dia da ruptura senti que mais tarde ou mais cedo teria que ter mais espaço, pensei que fosse mais tarde o que não aconteceu. Aconteceu mais cedo, e mais uma vez para fugir ao choque, à luta de galos e a outras merdas que causam ferida, mudei!
Morais Soares, assim se chama a rua onde moro de novo. De novo porque já morei la um ano. E coincidência das coincidências moro precisamente no mesmo prédio e no mesmo andar e na mesma casa. Não lhe chamaria voltar às origens porque isso seria voltar à casa de Erasmus onde morei 2 anos e meio com mais 10 cabeças, 3 fixas portuguesas, Eu, o João Alentejano e a Catarina de Mação e 7 variáveis que iam rodando. Muito boa gente passou por ali, muito amigo e amiga ficou, muita loucura se passou e pouca coisa se fez. Nesses anos fiz 6 cadeiras em 27, mas valeu a pena. Anyway e recentrando o tema, moro de novo na Morais Soares com as mesmas pessoas que deixei por lá quando saí em 2006, não dizendo que tudo se mantém igual, está tudo parecido e ainda bem, porque essas pessoas marcaram a minha vida.
Ela faz parte da minha família e a sua família parte de mim. São meus amigos, gostam de mim e eu deles, são pessoas que me acolheram, bem eu também sou uma pessoa muito fixe, para quem merece sou um doce e para eles a minha doçura é quase total, mais ainda neste momento que estou mais, sei lá o adjectivo que hei-de por aqui, uhmmmmm... aberto vá! Falo mais e ouço mais, e ela (a pessoa linkada em cima deve sentir isso) e ainda bem porque ela merece.
E agora pronto, estou lá a morar ainda não nas melhores condições porque desde cheguei que as minhas tralhas continuam espalhadas pelo armário e pelo chaão, confesso. Ainda não tive tempo de reorganizar as coisas como quero. Vai ser este fim de semana, vou passar o fim de semana em casa em organizações para finalmente ter o meu espaço, motivo pelo qual abandonei a outra casa. Confesso que quando mudo de casa, e muitas casa já tenho no currículo, gosto de chegar e fazer logo tudo para que me sinta no meu espaço imediatamente, estranho um pouco lugares estranhos nos primeiros tempos. Este não é estranho e talvez por isso não tenha tido essa necessidade imediatamente.
Mas o motivo principal que me levou a nem sequer pensar nisso foi uma pessoa que se mostrou muito especial. Sabia que ela ia chegar e planeei o meu tempo todo para ela. Queria fazer-lhe ver que ela estava enganada em 1 ou 2 coisas em relação a Lisboa. Lisboa essa que curiosamente é onde ela passa o tempo que cá está. Muito pouco diga-se, anualmente uns dias diria. Lisboa é aquela rua, a Morais Soares, Lisboa é a continuação daquela rua pela Paiva Couceiro até Sapadores e daí para a Graça e daí para o Miradouro de Nossa Senhora do Monte (fabuloso) e daí para a explanada da Graça e daí para o Castelo e daí para a Sé e daí para o terraço do Mercado Loureiro e daí para Alfama e daí para a Baixa e daí para o Chiado e daí para o Bairro e daí para a Bica e daí para o Cais do Sodré e daí para Lisboa novamente. Lisboa é por aqui, vistas e escadas e velhos e paralelos e outras coisas mais. Lisboa é por aqui altos e baixos e eléctricos e subidas ingremes e descidas vertiginosas e pessoas livres. Lisboa é por aqui bares pequenos, sons grandes, recantos de lazer bons, festas em largos e na rua. Lisboa é suja e cosmopolita, Lisboa não cansa às primeiras nem às segundas nem no resto da semana. Lisboa é bom para se estar. Lisboa é linda.
Queria fazer-lhe ver isto, não sei se fui bem sucedido mas acho que pelo menos a ajudei a mudar um pouco a ideia que tinha, pelo menos assim o espero. Já tinha falado dela por aqui neste espaço. Conheci-a quando veio cá fazer um visita precisamente quando morava na Morais Soares em 2006. Circusntâncias diferentes, posturas diferentes, tudo diferente à excepção da casa. Nunca deixámos de ter contacto, tem sido uma relação engraçada, à distância. Mas relação meramente, uhmmmmm sei lá como dizer... relação. Ultimamente mais afincada através destes meios de comunicação novos que tanto abomino mas que com ela até se tornavam suportáveis, e não por estar interessado ou por existir relação ou intenção de. Apenas porque sim, porque é bom estar com ela, nem que seja pela impossibiliade de isso acontecer de outra forma. O que é facto é que nos conhecemos finalmente, precisamente na semana da minha mudança para o mesmo sítio (redundante eu sei mas já o expliquei anteriormente). Mudança essa que tinha em vista conseguir o meu espaço e voltar a ser eu, redescobrir-me.
Adiei essa reconquista uma semana por causa dela, e qual sequela "
Before Sunrise" e "
Before Sunset" gostei quer da primeira semana e ainda mais desta 2ª semana. Dei-lhe o meu tempo e o meu espaço, recebi o mesmo dela e foi bom, muito bom. Até tenho saudades dela, saudades do tempo que passámos e a sensação que não foi apenas por termos pouco tempo que fizemos o que fizemos, tenho a impressaõ que mais tempo houvesse, mais tempo igual ao tempo que passámos pasaríamos. Para ela e só para ela um grande beijo de saudades.
Agora espero que eventualmente possa existir um terceiro filme, talvez quem sabe o "Forever Sunshine".Edit: Agora está na hora de me redescobrir como indíviduo em casa. E ai como gosto de mim!!!!